quinta-feira, 11 de julho de 2013

Sair da linha também é saúde


 
A médica Cristina Hachul Moreno busca o equilíbrio. Os dias da semana da cirurgiã plástica são divididos entre a atividade profissional intensa, cardápio controlado, treinos de corrida e aulas de pilates. As jornadas de sono, por isso, são curtas e feitas em horários regulares: cinco a seis horas diárias. Nos fins de semana, o hábito muda um pouco - e para melhor -, com noites com até oito horas de sono, além de uma ingestão moderada de bebida alcoólica com os amigos. A exceção ocorre quando ela participa de provas de corrida, quando o descanso é reduzido a cinco horas e o álcool vai a zero. Noitadas de vigília, nem pensar. “Para mim, é fundamental manter esse equilíbrio de semana regrada e fim de semana um pouco mais leve. Sem ele, os treinos e a vida seriam muito chatos”, diz Cristina. “A flexibilização da dieta, da bebida e do sono garante energia para a semana corrida, como se fosse um recarregar de baterias.”

A psicóloga Gabriela Felix Teixeira, do setor de Promoção de Saúde do Fleury Medicina e Saúde, explica que, de fato, a quebra de rotina no fim de semana pode ser benéfica como forma de interrupção do estresse do dia a dia. Mas, para ter realmente esse efeito, deve ser adotada com moderação. Isso pode incluir a degustação de cerveja ou vinho entre amigos. O problema, concordam os especialistas, aparece se houver exageros. Isso ocorre quando, em vez de degustar uma bebida alcoólica, a pessoa se embriaga. Ou, ainda, quando troca jornadas regulares de sono por noitadas ininterruptas no fim de semana. Privar-se de doces de segunda a sexta para comer a caixa inteira de bombons não vale como rotina equilibrada. Em resumo, até para “sair da linha” é preciso moderação. “Só podemos falar em saúde, bem-estar e qualidade de vida quando temos o equilíbrio como referência. A prática de hábitos saudáveis deve ser constante, seja no fim de semana ou durante a semana”, diz Gabriela.

Precisa de tanto?
Nutricionistas e psicólogos concordam que a origem dos exageros de fim de semana é a rigidez adotada durante a semana. Quem se impõe hábitos excessivamente severos de segunda a sexta-feira depara-se com um desejo de compensação irrefreável aos sábados e domingos, o que pode ser prejudicial. “Do ponto de vista psicológico e comportamental, quando alguém segue regras inflexíveis, a chance de aparecerem exageros e distorções é enorme.

Assim, dietas restritivas muitas vezes criam comportamentos alimentares transtornados, que podem provocar resultados contrários, com perda de controle e, consequentemente, ganho de peso”, afirma o psicólogo Michel Indalécio de Souza, do setor de Promoção de Saúde do Fleury.

O melhor caminho, portanto, seria procurar o equilíbrio. Ou seja, encontrar – de preferência com a ajuda de especialistas – dietas, práticas e hábitos adequados à harmonia de cada organismo. “Alimentar-se de forma saudável não significa adotar uma dieta restritiva que provoque fome”, diz a nutricionista Alessandra Belickas Carreiro, do departa mento de Gestão de Saúde do Fleury. “Quando um indivíduo é rigoroso demais a respeito do que pode ou não comer, o desejo de obter aqueles alimentos aumenta. Quando ele se permitir ingeri-los, possivelmente haverá exagero.” E isso, acrescenta a nutricionista, ocorre justamente no fim de semana – quando nossa mente produz uma espécie de “suspensão” das regras.

O engenheiro químico Rafael Caetano, de 28 anos, é adepto do regime da semana compartilhada: mais controle de segunda a sexta-feira e certa flexibilidade aos sábados e domingos. Ele tem uma tática para evitar desequilíbrios para qualquer lado: nada de exageros. Apreciador de vinho, ele dilui a bebida entre todos os dias da semana. De segunda a sexta-feira, a ingestão se dá em pequenas doses - em geral, uma a duas pequenas taças; no fim de semana, o volume pode ser um pouco maior. “Os fins de semana são, ao mesmo tempo, um dos poucos momentos de desligamento mental do trabalho e de oportunidade de estar com familiares e amigos. Excesso de rigidez nessas horas me privaria de momentos de prazer e satisfação genuínos”, diz Rafael. A prática de moderação, que inclui atividades físicas durante a semana e refeições balanceadas, foi construída a partir de recomendação médica, seguida à risca depois da descoberta de um quadro de resistência à insulina.

A nutricionista Alessandra lembra que o conceito de alimentação saudável engloba fatores como quantidade, qualidade, horários regulares, frequência de consumo e o prazer que os alimentos fornecem. Também entram na conta características individuais e preferências alimentares. “O ideal, por isso, é buscar uma orientação especializada, visto que as recomendações podem mudar dependendo de cada grupo ou doença associada àquele indivíduo”, completa. Ainda assim, há regras universais para a boa mesa – válidas para qualquer dia da semana. É o caso do consumo diário de legumes, frutas e cereais integrais, preferência pelas carnes brancas e pelo fracionamento de refeições, além da hidratação permanente. O álcool também exige regulação. A recomendação diária máxima é de duas porções ao dia, para homens, e de uma, para mulheres, considerando-se que o volume das porções varia de acordo com o teor alcoólico: uma taça de 150 mililitros para o vinho tinto, uma lata para as cervejas e 40 mililitros para os destilados.

Sono demais
Ao lado da flexibilização da rotina alimentar, a mudança de hábito do sono deve ser observada com atenção. Alterações bruscas na rotina podem ter efeitos negativos. “Dependendo da frequência e intensidade da alteração do ciclo de sono, geralmente necessita-se de pelo menos 48 horas para retornar ao padrão anterior”, diz o psicólogo Michel. A empresária Maristela Goulart divide sua semana em duas partes. De segunda a sexta-feira, ela mantém uma rotina rígida, controlando dieta alimentar e alcoólica, jornadas de sono e exercícios físicos. Tudo começa na alvorada, às 5h30. Quatro vezes por semana, ela alterna corrida e musculação. Segue, então, um café da manhã meticulosamente planejado: mamão papaia com cereais, pão integral com azeite e queijo branco. No almoço, salada multicolorida e grelhado e, no jantar, lanche natural. O período entre as refeições é preenchido com frutas e iogurte, além de muita água. No entanto, aos sábados e domingos, a rotina é alterada: as refeições perdem a rigidez quanto ao horário e cardápio. “Nesses dias, eu me permito comer um pouco de massa com a família, degustar um bom vinho ou um pouco de cerveja com os amigos. À noite, não dispenso uma boa pizza, sem deixar de lado a ingestão de água e o fracionamento das refeições”, diz a empresária. “Para mim, isso funciona como ponto de equilíbrio para uma vida mais saudável, que inclui convívio familiar e social e promove meu bem-estar mental e emocional.”

É possível encontrar o ponto de equilíbrio na alimentação, no sono, no álcool e na atividade física. Não há negociação possível, contudo, quando o assunto é tabaco. Cigarro e similares não são tolerados em nenhuma medida, e são descartados pelos especialistas como itens de compensação saudável. Trabalhos científicos que acompanham não fumantes e fumantes eventuais apontam que, para estes, o prejuízo à saúde é bastante significativo. A psicóloga Gabriela lembra que a própria indústria tabagista alerta para os malefícios das substâncias presentes nos cigarros, em qualquer dose: o efeito é cumulativo e compromete o organismo, não importa a concentração. “Apesar do uso ocasional aparentemente trazer menor prejuízo ao organismo, o tabagista sempre terá uma probabilidade maior de adoecer. Afinal, as substâncias tóxicas que são ingeridas acabam provocando efeitos danosos ao organismo.”

É possível flexibilizar rotinas de alimentação, sono e até álcool no fim de semana sem prejuízos à saúde. Mas é preciso evitar exageros

Cristina Hachul tem cardápio e sono controlados, faz pilates e corrida durante a semana, mas descontrai com uma certa flexibilização aos sábados e domingos

Maristela Goulart não abre mão do vinho e de uma boa massa nos fins de semana, mas compensa com uma rotina rígida de alimentação e corrida nos dias úteis
Quem se impõe hábitos excessivamente severos de segunda a sexta-feira depara-se com um desejo de compensação irrefreável aos sábados e domingos
Não há negociação possível quando o assunto é tabaco. Cigarros e similares não são tolerados em nenhuma medida, e são escartados pelos especialistas como itens de compensação saudável

Rafael Caetano tem maior controle alimentar e faz atividades físicas de segunda a sexta-feira, mas busca afrouxar as regras no fim de semana

Fonte: Fleury
Publicado em: 13/06/2013 

Edição: 26 

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